sexta-feira, 22 de maio de 2009

'Rock'n'roll': uma montagem superestimada

Foi Oscar Wilde quem sentenciou: "Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal". É dele também a seguinte observação: "O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação". Escolhi Wilde para abrir os trabalhos deste novo blog pois, na contramão de boa parte das opiniões da crítica, não gostei da montagem nacional de 'Rock'n'Roll', celebrado texto do Tom Stoppard (depois da morte de Harold Pinter, considerado o grande nome vivo da dramaturgia mundial). Com exceção da magnética presença de Gisele Fróes, a peça que se vê no Rio, agora no Teatro Villa-Lobos, é mais de erros que de acertos: as cenas são recuadas demais, algumas falas difíceis de escutar e o embate central - em torno da desestruturação do comunismo no leste europeu - é chato e datado. O que poderia haver de melhor deve passar batido para os não iniciados no rock'n'roll: a trilha, com canções dos Stones, Velvet Underground, Beatles, John Lennon, Bob Dylan e por aí vai, não tem uma amarração consistente com as cenas - e quem nada sabe sobre Syd Barrett (fundador do Pink Floyd e figura importante no enredo) sai do teatro ainda sem saber.

No elenco, Thiago Fragoso e Otávio Augusto, estudante e professor marxista, pouco contribuem para imprimir vigor narrativo à montagem. Embora bem cuidado, 'Rock'n'Roll' sofre com a duração excessiva (três horas) e merecia outro olhar dos diretores Felipe Vidal e Tato Consorti: menos careta, mais dinâmico e corajoso. Não é uma peça ruim - há bons momentos no confronto entre razão e emoção - mas está longe de alcançar o patamar a que se propõe. Voltando ao Wilde, bem, complicado foi tentar falar isso cara a cara com uma das produtoras do espetáculo em reunião recente da APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro). Quando vi a peça, presenciei pessoas reclamando do tom arrastado, durante o intervalo, e no final. A produtora não só não acreditou como citou um bate-papo com estudantes da PUC que viram o espetáculo e, segundo ela, saíram fascinados. Ao leitor que ainda não foi assistir, resta tirar suas próprias conclusões. Cotação: *

Um comentário:

  1. André, quero deixar aqui meu testemunho. Vi a peça no Centro Cultural da Caixa, no Centro, e após o primeiro ato metade da platéia foi embora. A peça é ruim e parte da premissa que o público tem PHD em Rock Roll. Não vejam essa peça, é a furada do ano!!!

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