quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

'Aqueles Dois': teatro honesto e arrebatador

Já é costume o Rio de janeiro receber no primeiro mês do ano uma avalanche de estreias. Neste janeiro de 2010, são quase 40, entre estreias e reestreias: o teatro tenta se impor e atrair um público que parece mais disposto a curtir a ensolarada cidade repleta de turistas. É graças a eles, aliás, que os produtores teatrais respiram aliviados, afinal, carioca típico não sai de casa em pleno janeiro disposto a ver aquela peça imperdível. Neste cenário, vale chamar a atenção para um grupo de turistas que estão do outro lado, na coxia. Vem de Belo Horizonte o espetáculo 'Aqueles Dois', dia Cia. Luna Lunera.

No CCBB de quarta a domingo às 19h30 até 28 de fevereiro, a peça acerta ao colocar os quatro atores (Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Rômulo Braga) a serviço dos dois personagens centrais, Raul e Saul, funcionários de uma repartição pública que estabelecem uma relação de amizade que atravessa as fronteiras do coleguismo habitual. É do amor dos dois que o conto de Caio Fernando Abreu, inspiração para a montagem, se apropria. E de todo o desconforto que tal sentimento desperta nos colegas de trabalho e nos próprios envolvidos.

Econômica e certeira, a montagem concebida pelo elenco ao lado de Zé Walter Albinati custou apenas R$ 6 mil para ficar de pé, numa prova de que o bom teatro não precisa de orçamentos milionários para ganhar corpo. Da luz ao cenário, passando pela trilha sonora e às citações de filmes e canções inesquecíveis, 'Aqueles Dois' seduz por ser teatro honesto, a partir de texto sem firulas, com progressão dramática, conflito. Um oásis de encantamento neste cenário teatral pouco inspirador dos últimos tempos. Em São Paulo, eles levaram para casa o Prêmio Shell 2009 de Melhor Iluminação e foram indicados nas categorias Melhor Direção e Cenário. Que o êxito se repita no Rio.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Inglaterra, Rio e o comportamento da plateia

Todos sabem que, infelizmente, embora as salas de teatro sejam, majoritariamente, ocupadas pelos que estão no topo da cadeia econômica - graças aos altos preços dos ingressos -, nem sempre o comportamento dos espectadores é condizente com sua condição financeira. Em estreia recente, da peça 'Adorável Desgraçada', com Débora Duarte, no Solar de Botafogo, duas atrizes não se intimidaram com o clima intimista do monólogo: uma esqueceu de desligar seu telefone; a outra passou boa parte da encenação trocando mensagens ao celular, sem se importar com a luz do visor que se destacava na plateia escura. Além de espectadoras, são colegas de profissão da atriz que, em cena, era obrigada a lidar com tais impedimentos à sua concentração. Um comportamento lamentável que, em palcos fora do Brasil, poderia ser repreendido com veemência.

Basta ver o caso que envolveu o ator Ian Hart, 45 anos, e um espectador que, segundo consta, teria conversado durante toda a peça que o intérprete britânico apresentava. No intervalo, Hart não se intimidou: dirigiu-se ao espectador com raiva, exigindo que calasse a boca. O homem em questão pensou tratar-se de uma fala do espetáculo. No fim da peça, contudo, o ator partiu para cima dele, gritando, acusando-o de ter falado a peça inteira. Pessoas próximas tiveram que intervir, para que o incidente não terminasse em agressão. Agora, o espetador estuda processar o ator, conhecido por ter interpretado Quirinus Quirrell, o professor de defesa contra as artes das trevas, no filme 'Harry Potter e a Pedra Filosofal'.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Vinte anos depois, o desejo mora ao lado

A atual montagem (acima) e a montagem original da peça, de 1987

Já disse Santo Agostinho que a medida do amor é amar sem medida. Sem censura, ele se apresenta em sua mais célebre forma, o amor carnal, na peça 'A Loba de Ray-Ban'. Em cartaz no Teatro Frei Caneca em São Paulo até 20 de dezembro (e com viagem marcada para o Rio), o espetáculo excede em sensualidade já nas fotos de divulgação feitas por Luiz Tripolli: suas imagens captam a atmosfera de desejo compartilhado que permeia a montagem. Nela, Christiane Torloni é uma atriz experiente que se apaixona por uma colega de profissão jovem, papel de Maria Maya - uma instigante aproximação assistida pelo marido da primeira, também ator, interpretado por Leonardo Franco.

Um triângulo amoroso se estabelece e ecoa na primeira montagem do espetáculo, de 1987, que teve o saudoso Raul Cortez no papel do 'lobo', hoje transformado em 'loba' na composição de Christiane. A atriz participou da montagem original, como a mulher do personagem de Cortez. Leonardo Franco também estava no elenco, como o jovem ator por quem o lobo se apaixonava, agora a atriz interpretada por Maria Maya. A direção do celebrado texto de Renato Borghi é, mais uma vez, de José Possi Netto.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Musical 'Gipsy' anuncia seus testes de elenco

Prevista para estrear em janeiro, a aguardada montagem brasileira do musical 'Gipsy', mais uma sob o comando de Charles Möeller e Claudio Botelho, já começa a garimpagem para testes de elenco: bailarinos/atores/cantores interessados e que possuam experiência comprovada em teatro musical devem enviar currículo com foto recente de corpo inteiro para o e-mail gipsy@aventuraentretetimento.com.br até o dia 3 de dezembro. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 2286-2035. Há papéis disponíveis para duas meninas, entre 8 e 13 anos, uma atriz e um ator, com idades entre 18 e 25 anos. Para o elenco de apoio, podem se candidatar bailarinos entre 20 e 30 anos. É desejável que a atriz, bailarina e cantora adulta seja bastante experiente e que o ator, bailarino e cantor tenha longa vivência em sapateado.

Com música de Julia Styne, letras de Stephen Sondheim e texto de Arthur Laurentes, 'Gipsy' se debruça na história de uma das mais famosas strippers que os Estados Unidos já conheceram e sua relação com a mãe dominadora. Na versão brasileira, os papéis serão defendidos por Adriana Garambone e Totia Meirelles. A Broadway recebeu revival recente do antológico musical, com Patti Lupone no lendário papel da mãe: uma interpretação vibrante, com solos antológicos a serviço da pulsante música de Sondheim. Mais uma produção de qualidade importada para o Brasil sob o selo de qualidade da dupla Möller e Botelho.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Broadway à carioca com o 'Teatro Para Todos'

De volta, depois de um longo e tenebroso inverno. E a pleno vapor, orgulhosamente, na divulgação da campanha Teatro Para Todos. A partir desta sexta-feira, dia 20 de novembro, e até 20 de dezembro, o carioca terá a oportunidade de assistir a espetáculos teatrais de sucesso pagando bem menos que de costume: quem adquiri-los num dos postos de venda da campanha, pagará entre R$ 5 e R$ 25. Não é pouca coisa: vejamos o exemplo do musical 'O Despertar da Primavera': na bilheteria do Villa-Lobos, o ingresso varia entre R$ 60 e R$ 70. Quem correr para comprá-lo num dos postos de venda do Teatro Para Todos, paga apenas R$ 25, mais de 50% de desconto.
Parece a área dos tickets da Broadway em Times Square, só que com pontos de venda espalhados pela cidade: um quiosque fixo instalado na Cinelândia; quiosques móveis que circulam por diversos bairros do Rio; postos BR; filiais das Lojas Americanas Express e Americanas.com e através do site ingresso.com.

Os espetáculos recordistas de ingressos na campanha este ano são a comédia ‘Farsa da Boa Preguiça’ (5.900 ingressos); o musical ‘Hairspray’ (4.800 ingressos); a comédia romântica ‘A História de Nós Dois’ (4.200 ingressos); a comédia ‘Gorda’ (3.850); o drama ‘Zoológico de Vidro’ (3.800) e o musical ‘O Despertar da Primavera’ (2.650). É a sétima edição da bem-sucedida campanha idealizada pela APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro), que este ano oferece mais de 100 mil ingressos para um total de 68 peças. Informações pelo 2205-2202 ou no site http://www.teatroparatodos.com.br/

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Humor de cara nova com o ator Paulo Gustavo

Tem o sugestivo nome de 'Hiperativo' o novo trabalho do ator Paulo Gustavo, do sucesso 'Minha Mãe é uma Peça' (que acaba de passar pelo Canecão depois de ser visto por mais de 300 mil pessoas). A nova montagem segue a linha das stand-up comedies, estreou no Espaço Cultural Unimed, em Niterói, e deve chegar ao Rio em outubro, no Teatro Miguel Falabella, no NorteShopping. Até lá, o ator cumpre expediente ainda do lado de lá da ponte: 'Minha Mãe é uma Peça', monólogo hilariante sobre os apuros de uma mãe superprotetora, cumpre temporada de 11 a 27 de setembro no Teatro Abel. A maré exitosa no teatro repercute no cinema: o ator, que já esteve nas telas esse ano como o divertido cabeleireiro gay de 'Divã', vai contracenar com Xuxa em 'O Fantástico Mistério da Feiurinha', que tem previsão de estreia para dezembro. Para quem ficou curioso sobre a nova peça, seguem trechos de entrevista do ator no Jô:

http://www.youtube.com/watch?v=Nk9LL9p-MJw e http://www.youtube.com/watch?v=4vdsGPfsjsU&feature=related

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Möeller e Botelho na série 'Dalva e Herivelto'

Em iniciativa inédita, o know how do teatro musical brasileiro servirá à realização de cenas numa minissérie televisiva: o diretor Dennis Carvalho contratou Charles Moeller e Claudio Botelho, os mais bem-sucedidos diretores de musicais do país, para dirigir os shows de 'Dalva e Herivelto', projeto que terá Adriana Esteves e Fábio Assunção como protagonistas. O Quitandinha, em Petrópolis, vai ser um dos cenários de shows do programa: ele se tranformará no Cassino da Urca. A minissérie, que se debruça na conturbada relação da cantora Dalva de Oliveira (foto) com o compositor Herivelto Martins, está cercada de cuidados, como um workshop sobre música ministrado por João Máximo e Sérgio Cabral.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Cate Blanchett e a marca de Blanche DuBois

Uma das mais impactantes personagens da dramaturgia mundial de todos os tempos, Blanche DuBois trará marcas eternas a Cate Blanchett. A atriz foi atingida por um rádio cenográfico pelo colega de elenco Joel Edgerton durante apresentação do espetáculo 'Um Bonde Chamado Desejo' em sua terra-natal, Sydney (Austrália). Com a cabeça sangrando, teve que interromper a encenação, mas passa bem. O incidente aconteceu nesta quarta-feira. Com programação visual arrojada, a peça é dirigida por Liv Ullmann e é mais uma montagem da Sydney Theatre Company. A interpretação de Cate para a célebre personagem de Tennessee Williams tem sido aclamada pelas capitais nas quais a montagem esteve. No Brasil, um dos últimos grandes desempenhos para o papel foi de Leona Cavalli.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Isabelle Huppert encena 'Quartett' no Brasil

A presença de 'Quartett' em terras brasileiras não é novidade: Beth Goulart e Guilherme Leme defenderam, com sucesso, o texto do alemão Heiner Müller, que bebe da fonte do romance 'Ligações Perigosas'. Inédito, contudo, é poder vê-lo na encenação de Bob Wilson que traz a estrela francesa Isabelle Huppert no elenco. O espetáculo desembarca no Brasil pelas comemorações do Ano da França, para apresentações em São Paulo e em Porto Alegre. A capital gaúcha sedia o seu tradicional Festival Internacional de Artes Cênicas, que chega ao 16º ano recheado de atrações internacionais de peso. Os paulistanos poderão conferir a performance de Huppert (aclamada pelo antológico desempenho de 'A Professora de Piano') no Sesc Pinheiros, de 12 a 16 de setembro, com ingressos a R$ 30,00, à venda a partir de amanhã, em todas as unidades do Sesc do estado. Já as apresentações no Poa em Cena acontecem de 23 a 25 de setembro, com ingressos à venda no centro de eventos do BarraShopping Sul. Parceria do Sesc SP com o Festival Internacional de Artes Cênicas de Porto Alegre, a vinda de 'Quartett' representa mais uma chance de o público brasileiro prestigiar o trabalho da atriz, que já apresentou por aqui o drama '4.48 Psychose'.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

De perto, ninguém é normal

Os alucinógenos estão mesmo na pauta de Fernanda Torres: além de servirem como agentes detonadores de todas as esquisitices que servem à peça 'Deus é Química' - sua primeira empreitada como autora teatral, em cartaz no Teatro dos Quatro -, eles figuram em cena impagável de 'Os Normais 2'. No filme, que estreou sexta-feira e mostra a desventuras de Rui e Vani para conseguir uma mulher que tope fazer um ménage a trois, a atriz protagoniza a melhor sequência, quando fuma um cachimbo indígena e mergulha numa vibe pesada de perseguição. Divertidíssimo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Claudia Raia de joelhos e de pernas para o ar

Quem esteve na estreia de 'O Despertar da Primavera' no Teatro Villa-Lobos, no Rio, presenciou cena curiosa envolvendo o diretor Claudio Botelho e a atriz Claudia Raia. Emocionada com o trabalho desenvolvido por ele na adaptação nacional do musical da Broadway, ela não pensou duas vezes e ajoelhou-se para reverenciá-lo. O gesto pode ter espantado muita gente, mas encontra explicação em passado recente: Claudia Raia estrelou, em 2007, sob o comando do diretor, o incensado musical 'Sweet Charity', com carreira bem-sucedida em São Paulo e Rio e resenhas elogiosas. De lá para cá, Botelho e o parceiro Charles Möeller já emplacaram outros sucessos, caso de 'A Noviça Rebelde' e 'Beatles num Céu de Diamantes', enquanto a atriz se dedicou à TV com a novela 'A Favorita'. Aos fãs das celebradas pernas dela a serviço das coreografias de musicais, um consolo: a mãe de Enzo e Sophia prepara seu retorno aos palcos com montagem intitulada 'De Pernas para o Ar'. O texto do musical é da dupla Fernanda Young e Alexandre Machado (de 'Os Normais') e a direção, de Wolf Maya. Mais informações estarão logo, logo à disposição do público no http://www.pernasproar.com.br/

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Spring Awakening original de fábrica

Para quem viu e para quem ainda não viu a montagem nacional de 'Spring Awakening' ('O Despertar da Primavera'), vale dar uma olhada em dois números com as melhores canções do musical original da Broadway: 'Mama Who Bore Me' e 'The Bitch of Living'. Aos que viram por aqui, reparem na diferença crucial: na montagem americana, atores cantam com microfone em punho. Aqui, o diretor Charles Möeller optou por fazer do canto um andamento natural da ação, sem o elenco posando de rock star.
http://www.youtube.com/watch?v=eRM2iaKHMCU&feature=related