segunda-feira, 31 de agosto de 2009

De perto, ninguém é normal

Os alucinógenos estão mesmo na pauta de Fernanda Torres: além de servirem como agentes detonadores de todas as esquisitices que servem à peça 'Deus é Química' - sua primeira empreitada como autora teatral, em cartaz no Teatro dos Quatro -, eles figuram em cena impagável de 'Os Normais 2'. No filme, que estreou sexta-feira e mostra a desventuras de Rui e Vani para conseguir uma mulher que tope fazer um ménage a trois, a atriz protagoniza a melhor sequência, quando fuma um cachimbo indígena e mergulha numa vibe pesada de perseguição. Divertidíssimo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Claudia Raia de joelhos e de pernas para o ar

Quem esteve na estreia de 'O Despertar da Primavera' no Teatro Villa-Lobos, no Rio, presenciou cena curiosa envolvendo o diretor Claudio Botelho e a atriz Claudia Raia. Emocionada com o trabalho desenvolvido por ele na adaptação nacional do musical da Broadway, ela não pensou duas vezes e ajoelhou-se para reverenciá-lo. O gesto pode ter espantado muita gente, mas encontra explicação em passado recente: Claudia Raia estrelou, em 2007, sob o comando do diretor, o incensado musical 'Sweet Charity', com carreira bem-sucedida em São Paulo e Rio e resenhas elogiosas. De lá para cá, Botelho e o parceiro Charles Möeller já emplacaram outros sucessos, caso de 'A Noviça Rebelde' e 'Beatles num Céu de Diamantes', enquanto a atriz se dedicou à TV com a novela 'A Favorita'. Aos fãs das celebradas pernas dela a serviço das coreografias de musicais, um consolo: a mãe de Enzo e Sophia prepara seu retorno aos palcos com montagem intitulada 'De Pernas para o Ar'. O texto do musical é da dupla Fernanda Young e Alexandre Machado (de 'Os Normais') e a direção, de Wolf Maya. Mais informações estarão logo, logo à disposição do público no http://www.pernasproar.com.br/

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Spring Awakening original de fábrica

Para quem viu e para quem ainda não viu a montagem nacional de 'Spring Awakening' ('O Despertar da Primavera'), vale dar uma olhada em dois números com as melhores canções do musical original da Broadway: 'Mama Who Bore Me' e 'The Bitch of Living'. Aos que viram por aqui, reparem na diferença crucial: na montagem americana, atores cantam com microfone em punho. Aqui, o diretor Charles Möeller optou por fazer do canto um andamento natural da ação, sem o elenco posando de rock star.
http://www.youtube.com/watch?v=eRM2iaKHMCU&feature=related

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Despertar da Primavera: um musical classe A

Não é todo dia que se vê nos palcos um musical dramático, com temas como suicídio, incesto e sexo entre menores de idade. 'O Despertar da Primavera' é tudo isso e mais. Ao apoderar-se do polêmico texto teatral do alemão Frank Wedekind de 1891, a dupla Duncan Sheik e Steven Sater fez nos Estados Unidos o que parecia inconcebível: transformou-o em musical. Sagaz, embalou-o com rock e coreografou, com desenvoltura, aquele hiato que separa a infância da vida adulta. Charles Möeller e Claudio Botelho viram a montagem na Broadway, compraram seus direitos e ganharam outro: o de fazer a seu modo. No Teatro Villa-Lobos, desde sábado, está o resultado. A montagem nacional seduz pela plasticidade e pela contenção - é um musical maduro, apesar da temática adolescente.

Ousada, a cena de sexo entre o casal protagonista está ali para explicitar que é ele o eixo da produção: é do despertar para os prazeres do corpo que trata a montagem, e de toda a censura que vem a partir da liberdade de se tomar partido, ir em busca do que se realmente quer. O cenário de tijolos, de grandes proporções verticais, emoldura com perfeição o afinado elenco, com um Pierre Baitelli apaixonado na pele de Belchior, por quem Wendla (Malu Rodrigues) se apaixona e a quem se entrega. A atriz, afinada, tem tom suave, sedutor, mas o acerto que obtém na parte musical não é o mesmo da interpretativa: falta-lhe força dramática, aquele brilho que uma protagonista como a que defende deve ter. Coisa que Rodrigo Pandolfo, intérprete do espevitado Moritz, tem de sobra. Ator superlativo, domina as cenas em que está, imprime força às canções que cabem a ele, mas merece a ressalva: menos seria mais para seu Moritz, para que o público acompanhe com o devido drama o conflito do personagem. Letícia Colin, conhecida da TV, é grata surpresa: canta bem e tem forte presença cênica.

Também a favor da encenação estão as versões que Botelho fez para as canções: elas se comunicam com o público jovem, com despudor e irreverência. Há vários momentos memoráveis - 'The bitch of Living' é um deles - e, em todos eles, a sensação de que ali está um trabalho feito com respeito pelo espectador, repleto de pequenas surpresas, rigor em detalhes e o bom gosto que vem conduzindo a bem-sucedida carreira de Möeller e Botelho. Nada, contudo, tem o impacto de olhar nos olhos da garotada que está em cena (são mesmo jovens atores, de 14 a 25 anos, boa parte virgem de musicais) ao fim do espetáculo, diante dos aplausos do público. O despertar deles acontece em comunhão com a plateia. Que venha a primavera. E depois, que venha 'Gipsy'.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Fernanda Torres: uma atriz que joga nas onze

Os dias que seguem são de muitos encontros com Fernanda Torres para o titular deste blog. O primeiro deles, sexta, na estreia da peça escrita por ela, 'Deus é Química', no Teatro dos Quatro. O segundo, ontem, durante o Prêmio Multishow, do qual ela foi apresentadora e o único motivo para acompanhar à desinteressante cerimônia. O terceiro, logo, logo, com a estreia de 'Os Normais 2', marcada para o dia 28. Em todos, a garantia do star quality de Fernanda, uma atriz que soube imprimir sua personalidade mesmo sendo filha daquela que é considerada a grande dama do teatro brasileiro.

Na peça, que entra em sua segunda semana, ela mostra que também sabe escrever: dirigido por Hamilton Vaz Pereira, o espetáculo que marca a primeira vez da atriz como autora tem todo o sarcasmo peculiar à intérprete, tudo muito bem fundamentado em fina ironia e também muita bobagem, porque ninguém é de ferro. Na montagem, ela e Luiz Fernando Guimarães, seu habitual parceiro, se veem jogados numa saga em que fazem uma viagem pelo mundo dos alucinógenos - e por que não? - pelo mundo propriamente dito, do Himalaia ao Afeganistão, de Bagdá à Amazônia. A jornada lisérgica tem como grande mérito a proposta de encenação, com banda ao vivo, uso de texto na mão, sonoplastia muito bem executada e luz que desenha bem os climas da montagem. Jorge Mautner, Francisco Cuoco e Fransergio Araújo dão tempero ainda mais escrachado ao espetáculo, garantia de risos fartos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

'A Música Segunda': as escolhas de um diretor

De tempos em tempos, a gente acaba sendo surpreendido por montagens teatrais de realização questionável, mas levada adianta graças à paixão. Paixão dos atores pelo projeto. Paixão do diretor pelo projeto. Paixão do produtor. É com esse 'amor demais' que o espetáculo 'A Música Segunda' cumpre temporada no Rio, no Maison de France. Curiosamente, tanta entrega ao projeto, um texto de Marguerite Duras sobre o reencontro de um casal que viveu uma paixão doentia e está separado há três anos, não garante vigor dramatúrgico. Helena Ranaldi e Leonardo Medeiros repetem, sob verniz de texto sério e profundo, os tipos da novela 'A Favorita': ela é a mulher infiel; ele, o marido traído, lamentoso. E se jogam, sem temor, na proposta do diretor José Possi Netto, que pontua as emoções com música, a todo instante, e ainda coloca em cena dois bailarinos, como alteregos dos protagonistas. Há marcações duras, quase coreografadas, e, é bom ressaltar, o excesso de toda aquela música com muito sax e atmosfera pseudo-envolvente é de gosto duvidoso. A discussão toda do casal, que vasculha o passado em busca de respostas para o fim, não traz nada de novo. E acaba ficando em segundo plano, diante de tantos artifícios da encenação.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A volta do melhor espetáculo da temporada

Melhor espetáculo da temporada, 'In on It' volta à cena a partir desta sexta no Teatro Maria Clara Machado. É uma rara oportunidade de conferir a maturidade do trabalho do diretor Enrique Diaz à frente da montagem, que tem texto do canadense Daniel MacIvor. Diaz, que havia arrebatado público e crítica ao desconstruir Shakespeare com 'Ensaio.Hamlet' e não obtivera o mesmo êxito ao reler Tchekov com 'Gaivota - Tema para um Conto Curto', teve a plateia do Oi Futuro nas mãos durante a temporada inicial de 'In on It'. Todos embarcaram no ardiloso jogo proposto pela encenação, em que Fernando Eiras e Emílio de Mello se jogam, sem rede de proteção, nas exigências do original texto, que passeia por temas como identidade, relação familiar e amorosa, vida, morte. Pode ir sem medo: a peça é complexa, mas divertida; inteligente, mas nada aborrecida. Vale o ingresso.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Peça de Fernanda Young chega ao Clara Nunes

Sai Priscila Fantin, entra Juliana Knust. Espetáculo baseado no primeiro livro de Fernanda Young, 'Vergonha dos Pés' chega ao Rio depois de temporada em São Paulo, com o mesmo Danton Mello da montagem original. A peça estreia para público neste sábado no Teatro Clara Nunes, na Gávea, e foca na busca de dois jovens pelo papel que ocuparão no mundo: Ana é uma escritora que luta para que suas histórias cheguem ao papel, e encontra em Jaime (Danton) um parceiro de ideais. A paixão dos dois é embalada por trilha sonora pop, sob direção de Alexandre Reinecke, que utiliza em cena vídeos e manipulação de bonecos. O título da peça faz referência a Ana, que calça 33 e não lida bem com o tamanho dos pés.