quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Despertar da Primavera: um musical classe A

Não é todo dia que se vê nos palcos um musical dramático, com temas como suicídio, incesto e sexo entre menores de idade. 'O Despertar da Primavera' é tudo isso e mais. Ao apoderar-se do polêmico texto teatral do alemão Frank Wedekind de 1891, a dupla Duncan Sheik e Steven Sater fez nos Estados Unidos o que parecia inconcebível: transformou-o em musical. Sagaz, embalou-o com rock e coreografou, com desenvoltura, aquele hiato que separa a infância da vida adulta. Charles Möeller e Claudio Botelho viram a montagem na Broadway, compraram seus direitos e ganharam outro: o de fazer a seu modo. No Teatro Villa-Lobos, desde sábado, está o resultado. A montagem nacional seduz pela plasticidade e pela contenção - é um musical maduro, apesar da temática adolescente.

Ousada, a cena de sexo entre o casal protagonista está ali para explicitar que é ele o eixo da produção: é do despertar para os prazeres do corpo que trata a montagem, e de toda a censura que vem a partir da liberdade de se tomar partido, ir em busca do que se realmente quer. O cenário de tijolos, de grandes proporções verticais, emoldura com perfeição o afinado elenco, com um Pierre Baitelli apaixonado na pele de Belchior, por quem Wendla (Malu Rodrigues) se apaixona e a quem se entrega. A atriz, afinada, tem tom suave, sedutor, mas o acerto que obtém na parte musical não é o mesmo da interpretativa: falta-lhe força dramática, aquele brilho que uma protagonista como a que defende deve ter. Coisa que Rodrigo Pandolfo, intérprete do espevitado Moritz, tem de sobra. Ator superlativo, domina as cenas em que está, imprime força às canções que cabem a ele, mas merece a ressalva: menos seria mais para seu Moritz, para que o público acompanhe com o devido drama o conflito do personagem. Letícia Colin, conhecida da TV, é grata surpresa: canta bem e tem forte presença cênica.

Também a favor da encenação estão as versões que Botelho fez para as canções: elas se comunicam com o público jovem, com despudor e irreverência. Há vários momentos memoráveis - 'The bitch of Living' é um deles - e, em todos eles, a sensação de que ali está um trabalho feito com respeito pelo espectador, repleto de pequenas surpresas, rigor em detalhes e o bom gosto que vem conduzindo a bem-sucedida carreira de Möeller e Botelho. Nada, contudo, tem o impacto de olhar nos olhos da garotada que está em cena (são mesmo jovens atores, de 14 a 25 anos, boa parte virgem de musicais) ao fim do espetáculo, diante dos aplausos do público. O despertar deles acontece em comunhão com a plateia. Que venha a primavera. E depois, que venha 'Gipsy'.

2 comentários:

  1. Só tenho uma coisa a dizer, André: o Pierre é lindo!! Adorei a bunda dele...

    Rafaela Santos

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  2. O Pierre, o Rodrigo, são todos lindos!! Assisti na 2ª fileira, então pude ver todos de pertinho!!hashahsu
    Melhor musical que eu já fui ver!!! A musica, os temas, tudo abordado de uma maneira tão inteligente q mesmo sendo temas pesados(suicidio, gravidez, abuso sexual, etc), a atmosfera do show não ficou pesada!! Com certeza vou ver Gipsy também, to super ansiosa pra chegar!!!

    ei, faz um favorzinho? Passa no meu blog e comenta na matério sobre o despertar e em outras matérias sobre musicais?!!
    Brigada ;DD

    Bjos. OTIMO BLOG!!!

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