segunda-feira, 8 de junho de 2009

Encenação exemplar para 'A Alma Boa...'

Quando fiz o último post, sabia da boa recepção que 'A Alma Boa de Setsuan' tivera em São Paulo, mas não imaginava que todos os elogios eram ainda poucos para o espetáculo. A montagem, que abraça com vigor e humor a obra de Brecht, é um exemplo raro da função que o teatro deve ter: sim, aquele velho papo do teatro como agente transformador. As questões ali discutidas, sob direção de Marco Antonio Braz, envolvem o espectador de forma a torná-lo quase participante da ação dramática, nos dilemas morais da prostituta de alma boa que passa a conhecer toda a maldade do mundo quando recebe dinheiro, doado pelos deuses, que reconhecem nela uma firmeza de caráter que seus vizinhos de aldeia não possuem. Chen Tê tem em Denise Fraga uma intérprete delicada e iluminada, com nuances de composição que, a todo instante, parecem sussurrar nos ouvidos de quem a vê: "conheço agora a lei da sobrevivência, mas não sei se estou disposta a praticá-la para me dar bem". Ali, no mundo cão retratado, há momentos de lirismo em cena, com espaço para o surgimento do amor - por que não? - num romance que já nasce torto e poucas chances tem de conserto, mas ainda assim, clama por sobrevida. E quando Chen Tê se passa por um primo para se impor diante dos aproveitadores locais, Denise nos presenteia com um trabalho 'chapliniano', brindando com o melhor dos vinhos um espetáculo que exala graciosidade e inteligência a cada cena, com cenários que trazem a coxia para o palco, luz fantástica, figurinos inventivos e funcionais e elenco exemplar. Que a alma boa de Setsuan seja muito bem vinda ao Rio. Cotação: ****

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