
São sutis as descobertas: a primeira delas está no texto, um relato envolvente e pouco emotivo, pontuado por considerações ímpares da mulher de Sartre sobre a condição do feminino, do masculino e das duas pontas capazes de uni-los ou separá-los. Ali, nos escritos da filósofa, passeiam divagações sobre o tempo e a liberdade, numa clara sinalização de que um bom conselho é mesmo viver sem olhar tanto para trás, abandonando o passado. Como sentencia a peça, viver sem tempos mortos, ciente de que o que vem pela frente está intimamente ligado com tudo o que já foi feito. No que é dito, há espaço ainda para considerações sobre o amor - o carnal, o baseado na admiração intelectual. E em tudo, uma atriz corajosa, capaz de se entregar ao jogo proposto pelo diretor Felipe Hirsch: Fernanda não se levanta, pouco se movimenta, arrebata no minimalismo, surpreende na delicadeza, no espírito jovem, ainda contestador das convenções, no prazer de atuar e ser outra. E na outra ser ela e dar um pouco de si a todos. Econômico, rico e inteligente, o monólogo que a atriz apresenta dura 60 minutos, que passam rápido mas devem durar uma eternidade no pensamento dos espectadores. Teatro simples e eficiente. Recompensador. Cotação:***
Nenhum comentário:
Postar um comentário